quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Narrativa - O Aprendiz (excerto)

Ao longe, a pequena aldeia fervilhava com actividade, ao aproximar-se o final do dia. O Sol navegava já lentamente em direcção ao seu refúgio nocturno, por detrás das montanhas longínquas do horizonte. Alguns comerciantes procuravam ruidosamente tentar fazer os últimos negócios do dia, como se de uma competição pela atenção de eventuais consumidores se tratasse, enquanto outros se encontravam já a arrumar os seus produtos em grandes carroças de madeira para os retornar aos locais de onde provinham. As restantes pessoas, essas caminhavam calmamente pelos caminhos de terra batida, ou corriam jovialmente, mas preparando-se todas para ultimar os seus afazeres ou prazenteiros passeios e assim retornar às suas casas, para começar a preparar uma noite descansada junto das suas famílias, à fugaz luz de tochas a arder ou de uma lareira a crepitar.

A observar esse cenário bucólico, um homem idoso permanecia sentado, em silêncio, junto à berma do monte, como habitualmente fazia. Há já anos que era essa uma parte da sua rotina diária, ao aproximar-se a hora do Sol Poente. (…) Uma suave brisa nortenha a ondular ligeiramente o seu cabelo branco era a única coisa que parecia conferir alguma vida à sua silhueta imóvel. A alguma distância, um jovem rapaz olhava-o atentamente há já alguns minutos, curioso, escondido atrás de uma árvore. Questionava-se se se deveria aproximar… muitas vezes ao longo da sua ainda curta vida havia pensado em o fazer, mas nunca havia reunido a coragem necessária.

Nesse dia, algo parecia dar-lhe um novo impulso, a motivação necessária. A ousadia para dar um passo de cada vez, em direcção ao alvo da sua curiosidade. A cada passo procurando reduzir a distância que o impedia de ver melhor, na esperança de enfim perceber o que o ancião faria todos os dias, sentado apenas, a olhar para o horizonte.

(...)


- Paulo de Sousa Alcoforado (2008)

2 comentários:

Anónimo disse...

Afinal tambem és um "poeta da prosa"
beijo grande
Alice A.

Unknown disse...

Muito bom ler-te em prosa Paulo! Muito bom mesmo. Uma surpresa excelente :)

Beijo

Vera